quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Se meu burro falasse!




Sempre que posso faço dois exercícios, um deles consiste em me desligar de todo universo afeto a Umbanda. Onde fico dias sem ler, escrever, pesquisar, ver ou me ater a atos externos praticados em favor ou contra a Umbanda. Chamo tal ato de oitiva da voz coletiva, ou melhor, é um momento em que passo a ouvir o coletivo, através de um ato de silêncio.

Bem, sendo este um problema que é da minha única e exclusiva conta, tomo a liberdade de mostrar a você que é tão humano quanto eu, que existem muitas formas de tirarmos as vendas que nos atrapalham a visão. Assim, descrevo a segunda forma de exercício ligado a Umbanda que praticamos, a qual chamo de exercício de auto análise ou de crítica construtiva. Em que pese a possibilidade de desequilíbrio entre o inconsciente e o consciente que sempre surgem com resultado, no final a concretização de tal ato é por vezes muito gratificante.

Começamos pensando nos benefícios que a religião de Umbanda e sua religiosidade têm trazido para humanidade. Depois pensamos nos benefícios que a religião de Umbanda tem trazido para o ser humano. Após analisamos os benefícios para o nosso país, depois para a nossa cidade, nosso bairro, nossa casa, nossa família e finalmente para nós mesmos, nos permitimos uma crítica. A qual tem lugar após estas primeiras análises, onde colocamos sobre crítica a importância da Umbanda para as pessoas de credo diferente dos nossos. Fazemos também uma crítica das sociedades cuja base religiosa possui uma diversidade das coisas que aparentemente são diferentes das que cultuamos na Umbanda, vamos ainda analisando os povos espalhados pelo mundo, nações terrenas e até mesmo extraterrenas.

Confessamos que após anos de análise profícua sobre a religião e a religiosidade de Umbanda, afirmamos categoricamente que somos muito inocentes e presos a forma. Nossa forma de leitura, inclusive a minha, é muito limitada. Analisamos as coisas de forma muito medíocre e apegada, por isso sofremos tanto.

Acreditamos, sem sombra de dúvidas, que o simples fato de darmos nome a nossa manifestação do sagrado já limita seu poder natural de manifestação. Criamos barreiras e falamos uma linguagem ininteligível aos nossos corações e cercamos de mimos um projeto que busca muito mais do que nossas limitadas intenções e capacidade de perceber e entender o sagrado.

Roupa branca, preta, vermelha, azul ... colares, miçangas, velas, bichos, atabaques, comidas, gritos, berros, macumbas, feitiços, magias mortas e vivas, garfos e facas, roças, terreiros, choupanas, farofas, sinais, pontos, pólvoras, velas, flores, cachaça, dendê, pimenta, cantigas, cantos e etc. Nada disso é Umbanda e ao mesmo tempo deixa de ser sua manifestação, pois muito mais que objetal, a Umbanda é uma intrincada manifestação de abarcamento e filosofia de vida. Ela avança sobre o fetichismo e espera pura e imutável pela nossa presença e vontade de mudar o nosso destino. Umbanda é vida, ela, graças ao grande espírito, não encarcera ou escraviza. Suas várias faces se adaptam a busca de cada ser, mas ela continua imaculada e bela, sem perder-se pela vontade e vaidade de cada um dos atrasados seres que se alimentam em suas sagradas fontes de conhecimento.

Para finalizar ainda existe uma última análise. Esta é feita no interior de cada ser, ela sem nenhum vício de resistência, analisa as nossas burradas, ou melhor, nossos atos de inconseqüência e ignorância. Nesta hora devemos ouvir o burro que existe dentro de cada um de nós. Dói um pouco, mas este burro precisa falar e quando um burro fala o outro abaixa a orelha. Devemos nos posicionar com um mínimo de dignidade e afastar as fontes de erro que nos fazem sofrer tanto. Deixe seu burro falar, para depois você não se arrepender de não ter deixado que o mesmo azurrasse por sua necessária mudança.

Aratanan – Ouça o burro que existe em voce, não seja ele!

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