Os astros estavam propícios, e, Preto Velho já havia determinado a colheita das ervas. “- Suncês, vão utilizar ervas solares, pode ir no mato e colher em número impar, maracujá doce, hortelã e alecrim de horta”!
Não fosse a dica, o Velho ainda completou: “- Os omi é que devem colher as ervas, e depois de colhidas elas devem ser maceradas na sombra para ficar expostas a lua nova ou crescente de um a três dias, viu misifio”!
Na data escolhida a turma do terreiro foi para a mata para a execução anual do amaçi. Que dia lindo, tudo estava dando certo. O médium chefe apesar de ser novo, possuía um caráter moral elevado e antes da saída já havia asseverado aos médiuns que se portassem com respeito quando da presença no sítio sagrado.
O trabalho teve seu início no horário de Xangô, o horário era propício para o amaçi com ervas de Oxalá, pois o horário estava sob esta influência. Iniciado os trabalhos, começou uma chuva em cima do local escolhido (uma choupana de pau a pique no meio da mata). As energias estavam que estavam, e, todo mundo se comportando bem.
Uma vez mediunizado com o Preto Velho deu-se inicio ao amaçi, a primeira lavada foi com a mão direta do médium, para que as coisas do passado fossem ajustadas, depois com a mão esquerda para que o presente também fosse ajustado.
Tudo corria bem, mas um dos médiuns questionou ao Preto Velho se ele e seu médium tinham ordens e direitos de trabalho, para fazer o amaçi em sua cabeça. O velhinho com uma risada bem faceira, ficou um minuto em silêncio e depois respondeu com a seguinte pergunta:
“-Sunçê, cortô o cabelo antes de vir para o amaçi, misifio?
O Médium respondeu de pronto: “Sim, meu Pai Velho, tenho o costume a anos de cortar o cabelo no mesmo salão e com a mesma pessoa. Sempre corto o cabelo com o Alfredo, pois não deixo mulher botar a mão na minha cabeça”.
Preto velho: “Sunçê tem certeza que o Alfredo é omi de verdade? Sunçê conhece a muié dele?
Médium: “Não, não conheço, na verdade nunca vi o Alfredo com mulher”.
Preto Velho:”E sunçê me conhece e conhece meu cavalo?
Médium: “Claro, conheço vocês dois há anos”.
Preto Velho: “Se é assim não precisa passar pelo amaçi, leva um pouco destas ervas já maceradas e pede pro Alfredo lavar sua cabeça. Quem sabe ele pode fazer alguma coisa pra Sunçê, mió do que nós, já que ele mete a mão na sua coroa todo mês pra cortar seu cabelo, num é?
Médium, já envergonhado: “Me desculpa meu velho, acho que precipitei, peço sua compreensão e peço para que o Senhor faça o rito de amaçi, por favor.
Preto Velho em silêncio lavou a cabeça do Médium e no final pronunciou a seguinte frase:
“Lavar a cabeça é fácil, isto qualquer um fais, mas lavá o cérebro é que é o difícil e isto eu tento fazer”.
Aratanan de Aracruz
Foto - Filha de Zélio de Morais mediunizada e efetivando o rito de amaçi.