sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nós somos e vós, sois?


Coisa bacana está da identidade umbandista, não estou falando de identidade documental, mas da identidade pessoal e essencial. Aquela que faz você ser e estar umbandista. Conheço vários tipos de umbandista (bons e ruins), motivo pelo qual apresento os piores exemplos, para que você possa ter um ponto de referência e mesmo de alerta, quando de sua caminhada espiritual (reservo, porém, o respeito aos que chamamos de verdadeiros umbandistas):

SIMPATIZANTE – pessoa que gosta da banda; tem o pé fincado na banda, e, não se resolve, pois não quer compromissos. O barzinho, a conversa fiada e outras conjecturas têm prioridade na vida dele;

NÃO SEI QUEM SOU – Parece muito com o simpatizante, corre na banda para pedir ajuda, e, depois some como se nunca tivesse visto ou participado de uma gira de umbanda (estes sempre voltam);

HIPÓCRITAS – Possuem uma doença chama fingimento. Ela assola os terreiros de umbanda e outras religiões, pois falar é muito diferente de fazer. Dizem uma coisa e quando testados fazem coisas totalmente diferentes do que pregam;

ENRUSTIDOS – Individuo que não se definiu em nada, vive se escondendo dele mesmo. Possui geralmente uma inteligência privilegiada, mas não a usa para o bem comum, pois adora analisar as atitudes alheias, como se a verdade estivesse com ele;

INCRÉDULO – recebe os espíritos no seu campo mediúnico, faz consultas mediunizado, mas não tem caráter formado ainda para entender a mediunidade, são egoístas ao extremo e quando contrariados fazem o papel de vítimas com uma “incredulidade” tamanha;

PASPALHO – Geralmente possuem algum desequilíbrio neuro- mental, suas mentes os forçam a grandes contradições. São bons burros de carga e geralmente são utilizados nos terreiros como leões de chacra e empregados domésticos;

PATÍFE – Adora a intriga, pois não consegue ter amigos e seu receio constante impede a formação de boas e verdadeiras amizades. Como bons futriqueiros fazem média para o chefe de terreiro e contaminam as lides de trabalho mediúnico com sua grande capacidade perfidiosa;

LOUCOS – Estes são os mais complicados quando não são identificados, pois dentro do grau de loucura de cada um, podem acabar com um terreiro se não forem frenados. Conseguem amar a alguns irmãos de terreiro e com a mesma força odiar outros tantos. Geralmente não conseguem avançar muito nas lides espirituais e fazem da loucura uma ferramenta constante de discórdia e desunião;

HUMILDE – Estes indivíduos transmitem uma humildade ascética, parecem iluminados de outras dimensões, se posicionam de forma política e não assumem a sua responsabilidade frente às pessoas, pois por serem “humildes” utilizam da omissão quando confrontados. Estes indivíduos são fáceis de serem identificados é só dar dinheiro a eles que eles mostram a sua verdadeira “humildade”;

PUXA-SACO – estes indivíduos possuem um egoísmo extremado, querem tudo para eles, participam de várias tarefas ao mesmo tempo, possuem uma grande capacidade de se relacionarem com o grupo, mas quando confrontados escolhem o lado de maior poder dentro do terreiro;

AVÓS - Estão na banda há muito tempo, possuem uma paciência de Jó, pois aprenderam com o tempo que participar é melhor do ficar excluído. Não possuem grandes conhecimentos em sua maioria, aprenderam com a prática, fazem as mesmas coisas há anos e não conseguem modificar o modo pessoal de ser e de se posicionar.

MEDROSOS – morrem de medo de feitiço, despacho, macumba e outras porcariadas, acreditam em tudo. Por mais que aprendam, não evoluem, o medo os atrapalha, pois elegeram o mal a sua bandeira de vida, acreditam mais no mal do que no bem e são eternos sofredores.

INTELECTUAL – São geralmente formados em curso superior, mas não aprenderam a respeitar o semelhante. Vivem demonstrando conhecimento ineficaz e fazem grupos dentro do terreiro. São uma força política e seu caráter é por vezes duvidoso. Seja amigo deles se não você vai estar fora do grupo.

APAIXONADOS – São indivíduos que não conseguiram resolver seus problemas afetivos e vivem se apaixonando por pessoas do grupo onde freqüentam. Sua força passional os faz debilitados, pois esperam no alheio o que é da responsabilidade deles mesmos. Confundem tudo e não conseguem desenvolver o amor próprio.

INICIADO – Sujeito vaidoso e metido a besta, adora dizer seus feitos e suas aleivosias. Negam conhecimento a todos, e, os que transmitem têm o condão, na maioria das vezes, de escravizar os bobos de plantão. Em que pese sua vaidade, vendem a fábula da simplicidade e da humildade, mas seu egoísmo os transforma em seres incoerentes e muita das vezes em indivíduos injustos.

RICO – É bem tratado em todo lugar, pois dinheiro traz reconhecimento e até certo destaque. Conseguem quase tudo que querem e geralmente são recebidos com galhardia nos terreiros. Em alguns casos são reconhecidos como verdadeiros iniciados e tem o benefício de andarem sobre um tapete vermelho no terreiro (se é que você me entende)

Par a finalizar, quero falar do VERDADEIRO UMBANDISTA, este que trabalha incansavelmente a favor do bem comum. Seu pagamento quase sempre é a incompreensão. Ele vive para a banda e não dela. Dá o que recebeu de graça, e é ajudado de forma constante pelos guias que lhe assistem. Transmitem seus conhecimentos a todos (respeitam o grau consciencional de cada um) e sua moral ilibada lhe garante o respeito onde estiver presente. Geralmente se destacam (naturalmente) como verdadeiros líderes e fazem do trabalho incansável e silencioso a bandeira da verdade e do amor que deve ser o prumo de aferição entre todos os seres viventes. Estes são raros, mas existem.

Aratanan de Aracruz – Se cuide!

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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Iniciação na Matéria





Nasci encharcado de água, sentindo o fogo que corria em minhas veias.

Respirei o hálito de Deus e pude ouvir o meu próprio grito.

Sou terra,

Sou água;

Sou fogo;

Sou ar;

Minha mãe é a terra;

Meu Pai é Deus;

Eu sou o encontro entre o espiritual e o material;

Eu sou Deus manifestado;

Minha verdadeira caminhada está em mim mesmo;

Eu sou!

Aratanan de Aracruz

domingo, 4 de outubro de 2009

O Exú Kardecista - Conto.



Boa história a que ouvi de um irmão de fé. Ele me disse que lá pelas bandas da cidade grande tinha um sujeito de grande força de trabalho e compromisso com o que fazia. Já com seus 20 e poucos anos, o tal sujeito manifestou o interesse de procurar um centro espírita. Como o dito cujo era um pouco letrado, vez que cursava os primeiros anos de um curso superior, decidiu o dito cujo procurar um centro Kardecista. Em sua consciência os Kardecista eram mais letrados e estudiosos do que outros filos religiosos. Encaminhado a um centro bem instalado foi o mesmo bem recebido e gostou do que viu e sentiu quando de sua permanência nas várias sessões que assistiu. Os meses foram passando e os anos se consagraram em uma formação sedimentada nas bases e doutrinas afeitas a lide Kardecista. Nosso amigo imbuído de sua missão espiritual se candidatou à função de orador e quase seria um dos melhores se não repetisse tanto o que decorou nas leituras Kardequianas que havia feito. Sua memória era tão boa que até as virgulas e pontos do que lia, eram devidamente externadas quando de suas locuções espirituais. Como toda evolução tem que passar pelo crivo da experiência, nosso amigo foi convidado para participar de um grupo de desenvolvimento mediúnico, vez que alguns irmãos mais experimentados nas lides espirituais, haviam visto que nosso amigo era possuidor de uma mediunidade ligada a mecânica de incorporação. Passado o susto pela informação de sua condição mediúnica, lá vai nosso amigo para uma reunião de orientação e tratamento de espíritos obsessores e sem luz; como gostam de dizer alguns dos líderes Kardecistas. Em que pese a mediunidade de nosso amigo, uma coisa ficou bem delimitada em suas manifestações espirituais, ele só conseguia receber uma entidade que quando nele se manifestava, dava um longo e forte grito assim traduzido: “- Exú”. Administrado o alvoroço inicial e após uma serie de admoestações, nosso amigo meio que sem entender, caiu em uma seria divagação mental e pessoal. Pois após longos anos na firme proposta de ser o Kardecismo a melhor de todas a religiões, era uma afronta para sua consciência receber em seu campo mediúnico, um Exú. Ainda Mais que o tal de Exú era espírito que segundo haviam lhe falado só baixava nas linhas de umbanda. Quanta dor, quanta aflição, mas em todas as reuniões lá estava ele aos berros: “Exú”. Dá-lhe reunião de instrução; de aconselhamento, de tratamento, de passe, de cura, de etc e nada do Exú ir embora. Resultado da história, não havia mais espaço para nosso amigo no centro espírita em que ele trabalhou anos a fio. E a solução por mais que dolorosa foi ter que buscar ajuda em um terreiro de Umbanda. Que confusão se tornou sua vida com toda aquela reviravolta, o coitado sofreu o dobro, pois ele não sabia que a umbanda tinha tanto fundamento e tanta abertura para receber quem quer que fosse. Lá na umbanda, nosso amigo percebeu que os espíritos não se prendem a vontade humana, nem tão pouco a vil vaidade dos reencarnados, eles existem e prestam compromisso a leis universais, aquelas que são imutáveis e iguais para todos, reencarnados ou não (será que você me entendeu?). E foi lá neste terreiro que nosso amigo passou por uma das experiências mais cômicas que um médium desavisado pode passar. Acostumado a reprimir tudo e a todos, nosso amigo em uma das reuniões, já manifestado com seu “Exú”, se deparou com uma prova de fogo – O CHARUTO e a MARAFA. Por mais que o Exú quisesse beber e fumar, nosso amigo o repreendia e lutava com todas as forças para que aquilo não acontecesse. Era uma afronta a todos os seus ensinamentos, ter que se submeter àquela questão ritualística (os charutos e bebidas são usados para limpeza e proteção dos consulentes e do próprio médium – (matéria tratada pela própria matéria). Coitado, do coitado; a pressão era forte, tanto dos outros Exús, quanto do “seu” Exú, pois estavam todos na expectativa de como ele iria resolver àquela situação. O Exú que o assistia colocando-o a prova, buscou na assistência um consulente carregado de larvas astrais, abriu seu campo visual para que ele visse com os próprios olhos o que deveria ser tratado. Ele mais que depressa se lembrando das lições de Kardec, começou a dar passes no consulente e para sua surpresa, as larvas astrais começaram a se deslocar para seu corpo, colando em seu aura e fazendo o estrago de sempre. Devidamente assustado nosso amigo vê um charuto em cima de um banco, pega-o desesperado, acende e começa a queimar aquelas larvas, as quais desaparecem após serem devidamente queimadas. Seu alívio é imediato e o do consulente também. A contar deste momento, nosso amigo faz do charuto um companheiro perfeito para as intervenções que o Exú que lhe assiste, sejam eficazes em favor da multidão de doentes do espírito e do corpo que acorre àquele terreiro. Não obstante, quando já superado o susto relativo ao charuto, nosso amigo se depara com uma garrafa de marafa (cachaça) sendo oferecida pelo Exú guardião que comandava àquela casa, e, sem saber o que fazer, sentindo que deveria tomar uma posição mais repressiva contra aquele ato, nega veementemente a oferta. E quando questionado responde gritando a todos os pulmões: “não bebo cachaça por que sou um Exú kardecista”!
Moral da história: mudanças rápidas podem até adoecer, mas ignorância sempre aniquila a oportunidade do aprendizado.

Aratanan de Aracruz – Não me entenda se entenda!