domingo, 4 de outubro de 2009

O Exú Kardecista - Conto.



Boa história a que ouvi de um irmão de fé. Ele me disse que lá pelas bandas da cidade grande tinha um sujeito de grande força de trabalho e compromisso com o que fazia. Já com seus 20 e poucos anos, o tal sujeito manifestou o interesse de procurar um centro espírita. Como o dito cujo era um pouco letrado, vez que cursava os primeiros anos de um curso superior, decidiu o dito cujo procurar um centro Kardecista. Em sua consciência os Kardecista eram mais letrados e estudiosos do que outros filos religiosos. Encaminhado a um centro bem instalado foi o mesmo bem recebido e gostou do que viu e sentiu quando de sua permanência nas várias sessões que assistiu. Os meses foram passando e os anos se consagraram em uma formação sedimentada nas bases e doutrinas afeitas a lide Kardecista. Nosso amigo imbuído de sua missão espiritual se candidatou à função de orador e quase seria um dos melhores se não repetisse tanto o que decorou nas leituras Kardequianas que havia feito. Sua memória era tão boa que até as virgulas e pontos do que lia, eram devidamente externadas quando de suas locuções espirituais. Como toda evolução tem que passar pelo crivo da experiência, nosso amigo foi convidado para participar de um grupo de desenvolvimento mediúnico, vez que alguns irmãos mais experimentados nas lides espirituais, haviam visto que nosso amigo era possuidor de uma mediunidade ligada a mecânica de incorporação. Passado o susto pela informação de sua condição mediúnica, lá vai nosso amigo para uma reunião de orientação e tratamento de espíritos obsessores e sem luz; como gostam de dizer alguns dos líderes Kardecistas. Em que pese a mediunidade de nosso amigo, uma coisa ficou bem delimitada em suas manifestações espirituais, ele só conseguia receber uma entidade que quando nele se manifestava, dava um longo e forte grito assim traduzido: “- Exú”. Administrado o alvoroço inicial e após uma serie de admoestações, nosso amigo meio que sem entender, caiu em uma seria divagação mental e pessoal. Pois após longos anos na firme proposta de ser o Kardecismo a melhor de todas a religiões, era uma afronta para sua consciência receber em seu campo mediúnico, um Exú. Ainda Mais que o tal de Exú era espírito que segundo haviam lhe falado só baixava nas linhas de umbanda. Quanta dor, quanta aflição, mas em todas as reuniões lá estava ele aos berros: “Exú”. Dá-lhe reunião de instrução; de aconselhamento, de tratamento, de passe, de cura, de etc e nada do Exú ir embora. Resultado da história, não havia mais espaço para nosso amigo no centro espírita em que ele trabalhou anos a fio. E a solução por mais que dolorosa foi ter que buscar ajuda em um terreiro de Umbanda. Que confusão se tornou sua vida com toda aquela reviravolta, o coitado sofreu o dobro, pois ele não sabia que a umbanda tinha tanto fundamento e tanta abertura para receber quem quer que fosse. Lá na umbanda, nosso amigo percebeu que os espíritos não se prendem a vontade humana, nem tão pouco a vil vaidade dos reencarnados, eles existem e prestam compromisso a leis universais, aquelas que são imutáveis e iguais para todos, reencarnados ou não (será que você me entendeu?). E foi lá neste terreiro que nosso amigo passou por uma das experiências mais cômicas que um médium desavisado pode passar. Acostumado a reprimir tudo e a todos, nosso amigo em uma das reuniões, já manifestado com seu “Exú”, se deparou com uma prova de fogo – O CHARUTO e a MARAFA. Por mais que o Exú quisesse beber e fumar, nosso amigo o repreendia e lutava com todas as forças para que aquilo não acontecesse. Era uma afronta a todos os seus ensinamentos, ter que se submeter àquela questão ritualística (os charutos e bebidas são usados para limpeza e proteção dos consulentes e do próprio médium – (matéria tratada pela própria matéria). Coitado, do coitado; a pressão era forte, tanto dos outros Exús, quanto do “seu” Exú, pois estavam todos na expectativa de como ele iria resolver àquela situação. O Exú que o assistia colocando-o a prova, buscou na assistência um consulente carregado de larvas astrais, abriu seu campo visual para que ele visse com os próprios olhos o que deveria ser tratado. Ele mais que depressa se lembrando das lições de Kardec, começou a dar passes no consulente e para sua surpresa, as larvas astrais começaram a se deslocar para seu corpo, colando em seu aura e fazendo o estrago de sempre. Devidamente assustado nosso amigo vê um charuto em cima de um banco, pega-o desesperado, acende e começa a queimar aquelas larvas, as quais desaparecem após serem devidamente queimadas. Seu alívio é imediato e o do consulente também. A contar deste momento, nosso amigo faz do charuto um companheiro perfeito para as intervenções que o Exú que lhe assiste, sejam eficazes em favor da multidão de doentes do espírito e do corpo que acorre àquele terreiro. Não obstante, quando já superado o susto relativo ao charuto, nosso amigo se depara com uma garrafa de marafa (cachaça) sendo oferecida pelo Exú guardião que comandava àquela casa, e, sem saber o que fazer, sentindo que deveria tomar uma posição mais repressiva contra aquele ato, nega veementemente a oferta. E quando questionado responde gritando a todos os pulmões: “não bebo cachaça por que sou um Exú kardecista”!
Moral da história: mudanças rápidas podem até adoecer, mas ignorância sempre aniquila a oportunidade do aprendizado.

Aratanan de Aracruz – Não me entenda se entenda!

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