quinta-feira, 9 de abril de 2009

Iniciação - Conto Umbandista - Parte I


“INICIAÇÃO”


“Conto umbandista”
Autor – Aratanan de Aracruz

Juca era um rapaz normal, acordava, comia, trabalhava, e dormia de novo. A vida lhe proporcionava o mínimo, pois Juca tinha sempre o que comer, tinha uma cama limpa para dormir e tinha o respeito das pessoas na vila onde vivia.

Apesar de já ter quase 30 anos, Juca era solteiro, trabalhava como carpinteiro e ganhava o suficiente para ajudar seus pais na despesa da casa. Juca tinha uma paixão danada por uma moça que ele conhecia desde pequeno, o nome dela era Ritinha, ela era uma flor de morena.

Nas brincadeiras e nas festas juninas, Juca fazia de tudo para ficar perto da Ritinha, até dançar quadrilha, só para ter a oportunidade de topar com aquela morena linda. A vida corria tranqüila, apesar das dificuldades que todo mundo passa. Com Juca, as coisas não eram diferentes, pois o mesmo suportava os trancos da vida sem perder as forças diante das dificuldades que lhe eram apresentadas.

O tempo passou e Juca começou a sentir diferente, começou a ouvir vozes, a ter uma azia que não acabava nem por reza brava. Além disso não sentia vontade de se levantar da cama, tinha pesadelos terríveis, e sentia um peso danado sobre seu corpo quando dormia. Tudo isso aconteceu de uma hora para outra, e, como sempre acontece Juca procurou um médico.

Feitos os exames, nada foi encontrado, quase viraram o Juca pelo avesso e nada. Mas as coisas “ruins” continuaram, passa mal dali, passa mal de lá e coitado do Juca, que não agüentava mais de tanto remédio que lhe era indicado.

Conselho então é que não faltava – “toma chá disso minino, que cura”; “toma chá daquilo minino que ocê vai meiorá” – e como resultado nada. As coisas foram piorando, pois as vozes que antes só atacavam de noite começaram a ser ouvidas de dia, e, era tanta coisa que ele ouvia, que ele já estava com medo de estar ficando doido.

Passada esta fase, vieram os conselhos de caráter religioso, e coitado do Juca, toma água benta, leitura de bíblia, exorcismo de padre e outras coisinhas mais. Nada dava certo. Até que um dia, o Juca é convidado para ir numa reunião de umbanda, onde o centro conforme diziam era “muito respeitoso”, e, verdadeiras curas eram feitas naquele lugar.

Sem muita esperança lá vai o coitado do Juca, para o centro de Umbanda. Quando ele chegou, já tomou um susto, pois as vozes voltaram com uma força incrível. Antes dele se sentar já sentiu um peso desgraçado nas costas, e, por incrível que pareça sentiu uma dor danada no estomago e nos intestinos. Na sua cabeça só vinha um pensamento – “Pelo amor de Deus, o que eu estou fazendo aqui. Que vontade danada de sair correndo e não voltar mais”.

Não refeito do susto, foi o Juca chamado para a consulta e quando caminhava para o atendimento, sentiu que seu corpo não obedecia mais aos seus comandos mentais. Começou a suar frio e a fazer movimentos involuntários, quando de repente eclodiu uma voz gutural de dentro de suas entranhas, a qual após uma longa risada se apresentou como Exú ....., dizendo que vinha para dar continuidade a uma programação iniciada antes da atual reencarnação do Juca.

E ai minha gente? O que fazer? Para onde ir? Como conviver com a mediunidade? Como tratar? O que ler? O que estudar? Quais as coisas que deveriam ser feitas para preservar a mediunidade? A quem recorrer?

Todas estas dúvidas perpassaram na mente de nosso incauto Juca, e, ele sem perceber assumiu compromissos que iriam doer em sua alma para o resto de sua vida....

Sua caminhada naquele terreiro foi no início como uma lua de mel, tudo era novo, as pessoas eram simples e o Juca chegou a acreditar que estava no céu. Quanto aprendizado, quanta instrução. Juca aprendeu de tudo um pouco, aprendeu a rezar, defumar, acender vela, limpar o terreiro, limpar casas de força, tratar dos Exús, preparar cerimônias e etc.

Bons tempos aqueles. E com o passar dos mesmos e já habituado a vivencia de terreiro, Juca não tinha mais tempo para nada, quase não convivia com a família, quase não via a Ritinha, pois vivia do trabalho para o terreiro e do terreiro para o trabalho. E que é pior, sua vida pessoal estava quase que dominada por seu “Pai de terreiro”. E toma-lhe demanda, feitiço, contra-feitiço e etc. Juca além de não conseguir efeito naquilo que executava, já estava com a vida pessoal e financeira, mais que atribulada, era cada aperto que só Deus mesmo para ajudá-lo, pois os seus “feitiços” não tinham eficácia quase que nenhuma .

E a coisa piorou, pois se Juca ajudou na fortificação do terreiro, esta mesma fortificação vai ser a culpada de sua desdita. Preste atenção nestes fatos: Quando Juca começou no terreiro ele era puro e realmente bem firmado e comprometido. Com o passar dos anos, o trabalho dos guias repercutil, de forma que pessoas afortunadas começaram a freqüentar o dito terreiro. Somado a isto, estas pessoas afortunadas começaram a assediar o “Pai de terreiro” com presentes e tratos de caráter financeiro que em pouco tempo, transformaram o mesmo, num escravo das vontades alheias.

E ai meus amigos, vocês já sabem o final desta missiva. Aquilo que era para ser uma coisa simples e honesta virou uma fábrica de fazer dinheiro, dá-lhe colar, livro, ponto riscado, trabalho na mata, rito para esta e para aquela entidade, encobrindo apenas a astúcia de se ganhar dinheiro fácil.

Só que tem um detalhe – Médium de verdade é produto em falta no mercado – e não é que o Juca foi assediado pela tal da “iniciação”, pois seu “Pai de Terreiro” viu que a mediunidade do Juca poderia ajudá-lo a ter sucesso não só na propaganda do terreiro, mas nas questões de trato financeiro, o que naquele momento muito lhe agradava.

Assim começou a “via crusis” do Juca, primeiro enxergaram nele a possibilidade de ser um “iniciado”. Fizeram Juca acreditar que ele poderia ser melhor do que os outros, que ele era uma pessoa especial, que o astral lhe daria poderes especiais sobre as pessoas e sobre os quatro elementos da terra. E dá-lhe sofrimento. O Juca coitado, já não sabia para onde ir mais, perdeu o emprego, a Ritinha estava noiva de outro, seus pais não conversavam mais com ele (o Juca se achava melhor do que os outros e era intolerante com as opiniões diferentes da sua) e ele estava totalmente isolado do mundo em que vivia.

E diante deste sofrimento danado, o Juca só recebia palavras de consolo no sentido de sofrer mesmo, pois a iniciação trás sofrimento, as provas são difíceis e que ele não deveria cair frente às provas que lhe eram apresentadas.

E os guias do Juca, onde estavam?

Coitado dos guias do Juca, por mais que insistissem, o Juca não os escutava. Era como se uma voz longe lhe desse um “pito” de vez enquanto. E o Juca se isolou de vez da sociedade em que vivia, ele acreditou que era realmente um enviado, um grande iniciado, sua roupa de trabalho chacoalhava de digínas e insígnias, mas a noite quando ele ia dormir, ele se sentia sozinho e abandonado.

Não poderia ser diferente, o Juca tinha que se sentir sozinho, pois quanto mais ele se iniciava com os homens, mais distante ele ficava dos espíritos. Coitado do Juca, de que lhe valiam aquelas tábuas, guias e pembas, se ele ainda não tinha se encontrado.

Quando o Juca olhava para dentro de si, a única coisa que ele via era a foto do seu “Pai de Terreiro”, pois ele tinha perdido a sua identidade; mas até ai tudo bem, pelo menos o terreiro estava indo de vento em polpa. E que polpa.

O tempo foi passando e novos médiuns foram chegando, e Juca, começou a perceber que suas intervenções eram desprestigiadas, as mensagens dos seus guias eram renegadas e que ele já não era mais necessário naquele meio espiritual.

Arrasado, Juca procurou apoio nos seus guias, e graças a “Deus”, encontrou. Muita coisa foi esclarecida muita verdade foi demonstrada e Juca viu a série de equívocos e erros a que foi conduzido.
"Imagem colhida na Web e sem identificação da autoria".

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