
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
Trecho da Poesia de Castro Alves – “Navio Negreiro”, que conta o sofrimento do desterro vivido por nossos antepassados escravos no Brasil. Esta poesia de Castro Alves está e sempre estará atual, frente ao desequilíbrio existente entre os que possuem o poder e por razões esdrúxulas não fomentam a igualdade social por pura demência materialista.
“Mudam-se os tempos, muda-se a paisagem, muda-se o clima, muda-se as tecnologias, mas os homens continuam os mesmos; escravos de si mesmo e senhores dos escravos que conseguem aplacar com sua insana e irrefreada busca pelo poder”. (Aratanan de Aracruz)!
Por respeito a figura de Castro Alves, não farei comentários sobre este texto e sua devida comparação com o que vivemos junto ao que se chama de movimento umbandista atual, mas convido voce a fazer uma breve reflexão sobre o tema.
Aratanan de Aracruz – Ainda vivemos na época do açoite espiritual!
Nenhum comentário:
Postar um comentário