terça-feira, 28 de julho de 2009

NAVIO NEGREIRO.


Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...


Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!


E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...


Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."


Trecho da Poesia de Castro Alves – “Navio Negreiro”, que conta o sofrimento do desterro vivido por nossos antepassados escravos no Brasil. Esta poesia de Castro Alves está e sempre estará atual, frente ao desequilíbrio existente entre os que possuem o poder e por razões esdrúxulas não fomentam a igualdade social por pura demência materialista.


“Mudam-se os tempos, muda-se a paisagem, muda-se o clima, muda-se as tecnologias, mas os homens continuam os mesmos; escravos de si mesmo e senhores dos escravos que conseguem aplacar com sua insana e irrefreada busca pelo poder”. (Aratanan de Aracruz)!
Por respeito a figura de Castro Alves, não farei comentários sobre este texto e sua devida comparação com o que vivemos junto ao que se chama de movimento umbandista atual, mas convido voce a fazer uma breve reflexão sobre o tema.

Aratanan de Aracruz – Ainda vivemos na época do açoite espiritual!

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